Enquanto meia dúzia de pessoas folheavam os catálogos de uma das bancas de venda de anime (cinema de animação japonesa), Shinigami, o deus da morte, passeava a sua longa zanpakutou (espada) pelo Parque de Exposições de Aveiro, onde decorreu, até domingo, a primeira edição do Anime Weekend, que mergulhou muitas centenas de pessoas, jovens e menos jovens, na cultura do País do Sol Nascente.
Shinigami, alma penada, foi apenas uma das muitas personagens do imaginário do anime e manga (banda desenhada) que durante três dias percorreram o espaço do evento, o primeiro inteiramente dedicado à cultura japonesa, do cinema ao sushi, passando pelas terapias orientais ou pela arte da cerâmica Raku.
António, técnico de contas, examinava uma gravura japonesa de Toyohara Hikanobu (1897), representando uma mulher da era Bunkyu (1861-64), quando foi interpelado pelo DN. "Nem fazia ideia do que é o anime, mas sou um interessado por outras culturas e tive curiosidade de ver o que é que tinham para mostrar." "Interessante", concluiu, elegendo a exposição "O Armário Milagroso", da colecção de Manuel Paias - que reunia "visões do Japão no final do século XIX através da gravura japonesa" - como um dos espaços que mais o cativaram.
O Anime Weekend arrancou com o pretexto de exibir filmes de animação japonesa, mas não se ficou por aqui. Do país que é o maior produtor mundial da tangerina chegaram ecos de flauta, filmes, comida, exposições e inúmeros ateliers (esgotadíssimos, com inscrições vindas de todo o País) e até mesmo o karaoke.
Num grande ecrã, viam-se imagens de telediscos japoneses, acompanhados da letras das músicas, impossíveis de compreender, mas nem por isso inibidores da diversão. Uma vez a música terminada, as palmas não se faziam esperar, com muita gargalhada à mistura. A poucos metros, uma pequena fila de pessoas via fazer pins com o símbolo do certame e outros ícones nipónicos. Os funcionários não tinham mãos a medir.
O intenso movimento nos corredores do Parque de Exposições, pouco habituado a acolher este tipo de eventos, comprovava o êxito do Anime Weekend. Uns compravam, outros viam, e uns quantos privilegiados participavam nos ateliers. Na sala do origami cerca de vinte pessoas ouviam atentamente o formador. As mãos dobravam e desdobravam as finas folhas de papel, que se transformavam em estrelas, flores, bonsai. Fora da sala, alguns visitantes, cheios de vontade de participar, criticavam as "poucas inscrições" abertas para o curso.
Francisco, de 16 anos, veio de Lisboa com dois amigos para passar três dias em Aveiro. "Aqui há muita manga e anime, em Lisboa não se encontra tanta variedade, pois não há lojas especializadas", explicou o estudante do secundário, fã da manga Naruto, que aproveitou para ver em cinema as aventuras do Samurai Champloo.
Fotos:
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